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Mauritânia brasileira por Ricardo Lopes
por Ricardo Lopes - (ricslopes@yahoo.com.br)
05/01/2008


Haroldo Nogueira e Ricardo Lopes
Foto: Lino Bochini


O Ricardo Lopes da Fonseca é jornalista da área automotiva, mas precisamente automobilismo, também trabalha na produção de vídeos e dá uma de piloto nas horas vagas.

Em janeiro de 2007 ele e fotógrafo Haroldo Nogueira tiveram a ousadia de ir ao Rally Dakar como integrantes da imprensa, mas ao contrário da grande maioria, em vez de seguirem de avião, decidiram ir de carro percorrendo o trecho da competição. O resultado dessa aventura está no livro, Dakar: a magia do deserto.
Contatos: ricslopes@yahoo.com.br

Neste momento difícil para o rali, com o cancelamento do Dakar 2008, ele colaborou e escreveu este artigo.

Mauritânia brasileira

O nome do país está estampado em todos os noticiários como o local da discórdia ou tragédia em que franceses foram vítimas da violência terrorista. Fato que acabou por cancelar a edição deste ano do maior rali do mundo.
A Mauritânia, ao menos aparentemente, não tem problema político algum com a França, ou com qualquer outro país, mas é relativamente extenso e incrustado no meio do deserto, o que certamente facilita a invasão de povos de diversas regiões da África. É o que deve ter acontecido com o grupo terrorista Al Qaeda, responsável pelos atentados. É difícil controlar toda essa área, que por sinal é uma aventura e tanto para quem pretende curtir o território africano.
Na minha passagem por essa região em 2007, conheci alguns brasileiros que moram por lá. Foi em Atar, quando tivemos um dia de descanso. Dia esse que todos os competidores torcem para chegar logo, pois a partir dali daria início ao trecho de maior dificuldade do rali e na edição passada ficava justamente na Mauritânia. Todos os trechos por esse país foram os mais difíceis para máquinas e pilotos.
Os brasileiros que conheci em Atar residem em Nouakchott, a capital da Mauritânia. Eles são engenheiros e trabalham na construção de estradas daquele país. Todos os anos acompanham a passagem do rali e sempre vão desejar boa sorte aos brasileiros na competição. Tivemos um bom papo com eles, que me ensinaram bastante sobre a Mauritânia e seu povo. Fizeram questão de enfatizar que os brasileiros são bem-vindos e que o povo de lá se identifica com o nosso Brasil.
O trecho mais difícil e perigoso foi logo após o dia de descanso e ligou Atar a Tichit. Todos, tanto os brasileiros na competição, como Klever Kolberg e André Azevedo, quanto os nossos conterrâneos que moram lá, diziam para não ir, pois era extremamente perigoso, enfim, era melhor seguir as equipes de apoio e fazer a volta. Mas, ver as dunas gigantes e saber o que é o deserto de verdade era minha maior vontade. Então o que fiz? Parti para o dia mais complicado do Rally Dakar de 2007.
Haroldo e eu fizemos o deslocamento e no trecho que valia contra o relógio andamos até o primeiro grande desafio dos competidores: as dunas. Paramos ali e esperamos as motos, os carros e os caminhões para fotografá-los. Depois que passaram os primeiros caminhões – eles largam atrás das motos e dos carros - decidimos ir embora.
Naquele momento alguns tuaregues que estavam próximos de nós chegaram para conversar. Nossos amigos brasileiros que moram na Mauritânia nos ensinaram uma expressão local: “Salam Maleki”. Não sei se é assim que se escreve, mas era só falar isso para os tuaregues e eles ficavam amigos. Essa expressão quer dizer, “Vai com Deus”. E quando dois tuaregues se aproximaram Haroldo não perdeu tempo: “Salam Maleki”. Pronto, foi uma festa. Logo os dois tuaregues eram amigos íntimos, tanto é que até nos ensinaram a colocar aquele pano que eles usam no rosto.
Ao falar em Brasil, os tuaregues fizeram sinal positivo. Aí a festa ficou boa. Como éramos grandes amigos, perguntamos, num ritual de mímica misturado com inglês e francês, como fazer para ir até Tidjikja, uma cidade entre Atar e Tichit. Nossa intenção era pegar um atalho no deserto, mas quem disse que existe isso?
Um dos tuaregues nos disse para contornar a montanha e seguir a rota principal que a gente chegava lá. Se fosse para seguir o roteiro do rali, ali pelas enormes dunas, seria bem difícil, mas contornando as dunas não.
Bom, o restante dessa aventura fica para outra oportunidade. Até lá.

Ricardo Lopes


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